segunda-feira, 17 de novembro de 2008
CARTA DE TOMÉ
Calmamente eu observava. Sempre observei de fora como um espectador empolgado esperando o mocinho salvar o dia, mas mesmo assim eu estava junto dele em todos os momentos. Senti sua dor, e também sua presença, mesmo afastado, o que não achei que seria possível. Gostava de seu espírito calmo, doce, refrigerado e mesmo assim não me sentia tranqüilo. Como pude pensar dessa forma? Sentiria-me horrorizado se soubesse que o Messias, um titulo formal para nós, desconfiasse de meu zelo.
Certa vez que eu me lembro, eu pude sentir de perto sua paz. Como uma luz forte, que espantosamente não ardia os olhos, mas sensibilizava os espelhos da alma. Ele tinha esse poder e mesmo assim era tão humano. Não conseguia compreender como ele era o escolhido da profecia. Na verdade entendia sim.
Nesse mesmo dia eu fui-me a ele com angústia e dor, tal como de um parto, esperando uma resposta que eu deveria imaginar que seria exata. Como fui tolo, talvez tenha sido minha primeira provação. Pedro, sempre arrogante, não continha suas lágrimas de sangue quando soube que Lázaro havia nos deixado. Os outros companheiros evitaram olhar nos olhos do Messias por algo mais ínfimo que a tristeza. Mas para mim, não foi a surpresa que silenciou meu coração, e nem a razão pode me despertar, pois só pensei em uma coisa: Morrer com ele. Eu tinha devoção e coragem para tal ato.
Eu estava ficando melhor. Não como esperava de mim mesmo, mas conseguia enxergar com mais amplidão o poder do Messias. Passou a ser natural as curas, os milagres, e acho que o milagre maior foi a clareza de minha mente.
Afirmativamente o dia não pode chegar com mais temor. Eu tinha todas as certezas do mundo, sabia que nada era mais forte que minha fé, mas encontrei esse ''nada'' no momento em que me vi sozinho. A fé não bastava se não estivesse ao lado de seu criador. Fui chamado de incrédulo, e culpado por duvidar. Pelo menos fui muito mais sincero que eles.
Meu nome não é Didimo, isso só foi um apelido na minha própria linguagem. Nunca me citaram, não fui lembrado e mesmo tendo tocado mais fundo que todos os outros eu só fiquei na história pela minha falha.
Quem lamentou por Lázaro não foi o piedoso, mas o incrédulo. Quem sempre foi chamado de Gêmeo pelo próprio povo, finalmente teve um motivo de ser chamado de Único.
Mas, ignoremos a história. Se eu pedisse para ser lembrado, daria espaço para meus prêmios na imprensa do povo. Deixemos de lado e lembremos que foi o Messias que permitiu nosso destino.
Com muita Ternura,
Didimo Judas Tomé.
Vi auguro pace
O lado mais fraco do evangelho.
Nas andanças de um cristão podem-se encontrar fundamentos e bases para qualquer alicerce emocional, construtivo e edificante. Talvez viver como um espectador não seja tão realizador assim, se é um pouco afinal.
Ser visado hoje no hemisfério eclesiástico se tornou chave para alcançar a santidade e a identidade cristã sólida. Um membro protocolizado e litúrgico que em todos os cultos se senta no banco reservado e “bate palmas na igreja porque a Bíblia diz: ‘Batam palmas todos os povos’” tal pessoa é entronizada como referencia influenciadora, mesmo sabendo que as únicas pessoas que podem julgá-la são os que convivem com ele 24 horas.
Talvez os púlpitos saltem por si só como propagandas de marketing e comércio secularizado.
- Não quero me envolver nisso! – Diz o poeta, mas é cego quando aceita o mal vindo da boca do seu referencial e julga quando vem da boca da ovelha. Certo dia, usei de um palavreado rotulado de “torpe”, mas no mesmo culto onde estava, o Pastor, que por sinal bastante “famoso”, usará de maneira idêntica, não foi alvo de indignações como eu. Na verdade foi aplaudido pela maioria como discipulador da verdade sem censura.
Uma coisa que aprendi com o universo pessimista de Ricardo Gondim, com a ousadia deísta espiritual de Philip Yancey, com a ética promissora de Augusto Cury, com a alegria em unir pensamentos de Clive Staples Lewis, foi que existe uma indagação maior do que os "por ques" misteriosos de Deus; na verdade existe uma dúvida em meu coração em saber o "por que" não abrimos nossos olhos para enxergar respostas óbvias.
Seria uma insensatez medíocre de minha parte dar exemplos de erros cometidos por líderes, referenciais, pastores, visando a queda de sua autoridade. Não escrevo meus textos para assumir a responsabilidade de porta-voz de um povo incomodado com a hipocrisia nos altares. Altares esses que, como disse uma vez o Pregador Jehan Porto, se parecem mais com a torre erguida pelos homens de Babel. Não faço poemas, escrevo cartas, publico livros no intuito único e somente de acusar, julgar, promover dissensão e contenda entre aqueles que alimentam os necessitados. Mas o que digo é que a igreja se tornara exatamente isso.
Estamos preparados para evangelizar, para dizer que Jesus ama a todos e que haverá bênçãos e mais bênçãos de acordo com as frases que decoramos através do artista que prega no púlpito, mas ao oposto do que Paulo afirma, "Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós, ou por algum juízo humano; nem eu tampouco a mim mesmo me julgo", não estamos preparados para dizer a clareza do que pensamos, com o medo de sermos qualificados como "desviados" e "hereges". Culpo à prisão institucional Igreja, que mostra o pensamento livre, algo pecaminoso.
Mas apesar de tudo tenho aprendido a conviver com esse lado mais fraco do evangelho. Como disse, não sinto prazer em difamar homens, cidadãos e irmãos em cristo; pois talvez não tenha cacife para tanto.
Espero sinceramente que minha visão, mesmo não entendida, não seja rotulada de modo algum, pois odeio rótulos. Tentei com esse texto apenas mostrar que não levantarei a mão e concordarei, se nos reality show gospel que se realiza todo domingo nos templos e lonas de um povo próspero, ouvir frases como "uma salva de palmas para Jesus" ou "não digo que todos vão ficar ricos, mas deus vai abençoar cada um de seu modo".
Sou jovem e desejaria, de coração aberto, não precisar escrever o que venho pensando nesses dias tão tristes.
