Foi um dia torturante, na verdade eu sempre me lembro dele com gosto, até sabendo que meu erro vem juntamente.
Calmamente eu observava. Sempre observei de fora como um espectador empolgado esperando o mocinho salvar o dia, mas mesmo assim eu estava junto dele em todos os momentos. Senti sua dor, e também sua presença, mesmo afastado, o que não achei que seria possível. Gostava de seu espírito calmo, doce, refrigerado e mesmo assim não me sentia tranqüilo. Como pude pensar dessa forma? Sentiria-me horrorizado se soubesse que o Messias, um titulo formal para nós, desconfiasse de meu zelo.
Certa vez que eu me lembro, eu pude sentir de perto sua paz. Como uma luz forte, que espantosamente não ardia os olhos, mas sensibilizava os espelhos da alma. Ele tinha esse poder e mesmo assim era tão humano. Não conseguia compreender como ele era o escolhido da profecia. Na verdade entendia sim.
Nesse mesmo dia eu fui-me a ele com angústia e dor, tal como de um parto, esperando uma resposta que eu deveria imaginar que seria exata. Como fui tolo, talvez tenha sido minha primeira provação. Pedro, sempre arrogante, não continha suas lágrimas de sangue quando soube que Lázaro havia nos deixado. Os outros companheiros evitaram olhar nos olhos do Messias por algo mais ínfimo que a tristeza. Mas para mim, não foi a surpresa que silenciou meu coração, e nem a razão pode me despertar, pois só pensei em uma coisa: Morrer com ele. Eu tinha devoção e coragem para tal ato.
Eu estava ficando melhor. Não como esperava de mim mesmo, mas conseguia enxergar com mais amplidão o poder do Messias. Passou a ser natural as curas, os milagres, e acho que o milagre maior foi a clareza de minha mente.
Afirmativamente o dia não pode chegar com mais temor. Eu tinha todas as certezas do mundo, sabia que nada era mais forte que minha fé, mas encontrei esse ''nada'' no momento em que me vi sozinho. A fé não bastava se não estivesse ao lado de seu criador. Fui chamado de incrédulo, e culpado por duvidar. Pelo menos fui muito mais sincero que eles.
Meu nome não é Didimo, isso só foi um apelido na minha própria linguagem. Nunca me citaram, não fui lembrado e mesmo tendo tocado mais fundo que todos os outros eu só fiquei na história pela minha falha.
Quem lamentou por Lázaro não foi o piedoso, mas o incrédulo. Quem sempre foi chamado de Gêmeo pelo próprio povo, finalmente teve um motivo de ser chamado de Único.
Mas, ignoremos a história. Se eu pedisse para ser lembrado, daria espaço para meus prêmios na imprensa do povo. Deixemos de lado e lembremos que foi o Messias que permitiu nosso destino.
Com muita Ternura,
Didimo Judas Tomé.
Vi auguro pace
Retorno! Me reapresentando!
Há 9 anos

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